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    Por trás dos processos da Let’s GIG na produção local do COLORS no Brasil

    Em entrevista exclusiva à MUSI, Gabriela Pompermayer e Ricardo Rodrigues contam sobre a chegada do COLORS no Brasil

    Se você curte descobrir novos sons e tem o costume de consumir música pelo Youtube, certamente já foi impactado pelo COLORS, programa que promove sessions com artistas de diversos lugares do mundo. Por conta de sua estética única e sua curadoria mega cuidadosa, as sessions idealizadas pelos fundadores Felix Glasmeyer, Steve Legrand e Philipp Starcke se tornaram uma plataforma importante de descoberta de artistas. 

    Zapeando pelo canal você encontra desde artistas já presentes no mainstream – como Alicia Keys e Billie Eilish – até os em ascensão – como La Dame Blanche, Budah e Enny. Além disso, para alguns artistas como Masego, H.E.R, Doja Cat, Nathy Peluso e Daniel Caesar, o canal foi uma plataforma importante para acessar públicos interessados ao redor do globo. 

    O projeto foi lançado em fevereiro de 2016 e desde então o canal reuniu mais de seis milhões de inscritos, com vídeos que superam 170 milhões de visualizações. A intensa busca da curadoria por sonoridades distintas e novidades trouxe o canal até a música produzida no Brasil. Por aqui, encontraram combustível para criar uma série de vídeos com artistas nacionais, vontade que existia há tempo, mas que só começou a se realizar em 2019, com os episódios de Xênia França, Liniker, Luedji Luna, Rincon Sapiência e Zeca Veloso. 

    Nessa época, as gravações eram realizadas apenas na Alemanha e conseguiam organizar a agenda de acordo com as turnês que passavam pela região. Foi nesse período que os caminhos da Let’s GIG e do COLORS se cruzaram e começaram um diálogo, que culminou na agência realizar a produção local de  episódios no Brasil, possibilitando que a curadoria contemplasse em seu canal mais da pluralidade que é a música produzida por aqui, já que as barreiras da distância foram estreitadas. A Let’s GIG, em parceria com FLOW CREATIVE CORE e Casa Natura Musical, realizaram as sessions de Emicida, Febem, ÀVUÁ, Mc Dricka, Budah, Bruna Mendez, Agnes Nunes, BIAB, Celo Dut e Ana Olic.

    Assista todos aqui!

    Com exclusividade à MUSI, você confere a entrevista em que Gabriela Pompermayer (Artístico e Repertório da Let’s Gig) e Ricardo Rodrigues (Gestão Institucional e Parcerias na Let’s GIG) contam um pouco de toda essa história. Inspirador!

    Importante: a entrevista está dividida em dois momentos, o primeiro “Processos” traz mais sobre o backstage e “Opinião” mais sobre posicionamento e reflexão. Boa leitura!

    (1) Li que o convite para essa parceria começou quando Liniker fez sua participação na série. Podem nos contar mais em como essa parceria começou? 

    O convite chegou para Liniker gravar no canal durante uma turnê na Europa, em 2019. Estivemos com ela nessa gravação – que  acabou sendo o primeiro lançamento da carreira solo dela, Presente – e nos aproximamos da equipe. São muito fãs de música brasileira, estavam super felizes de terem gravado naquele ano Xênia, Luedji, Rincon e tinham planos de levar muito mais gente. Seguimos nesse diálogo para fazer essa ponte com outros artistas com turnês agendadas, mas com a chegada da pandemia, os planos foram suspensos. Em 2021 o canal começou a fazer sessões em outros espaços e nós sugerimos trazer para o Brasil. Logo nos entenderam como parceiros estratégicos para viabilizar a ideia.

    (2) Como vocês chegaram na equipe que estão hoje para realizar o Colors no Brasil?

    Pensamos em parceiros com quem já tínhamos ótimas experiências de trabalho, que são referência em suas áreas de atuação e que complementariam o time nas qualidades necessárias para um projeto dessa relevância. Foi bastante desafiante, porque devido às restrições da pandemia, a equipe original do canal em set foi mínima. Todo o processo de curadoria e pós-produção foi feito por eles online. A Let’s GIG assumiu a produção geral e do artístico. A Casa Natura é um espaço muito especial e nos ofereceu toda a estrutura necessária para abrigar as gravações, além de equipe super profissional. Foi acolhedor para os artistas entregar performances tão poderosas em um lugar com o qual muitos já tinham uma relação afetiva prévia – seja no palco ou na plateia. Para a coordenação e execução técnica, não tivemos dúvidas em chamar a Flow Creative, que virou uma super parceira nossa na produção de lives. Confiamos totalmente na capacidade criativa do seu time, além de terem uma forma muito parecida com a nossa de lidar com as coisas – na simpatia, gentileza e empatia sempre. Houve uma atenção especial para diversidade no set também, até por ser um valor tão importante na seleção musical do canal. Teve ainda equipe cenotécnica, testagem, catering. Foi uma equipe bem enxuta, mas um ambiente de trabalho muito gostoso, todo mundo muito generoso e capaz. O foco da gravação é ter o terreno mais preparado possível para que o artista chegue e possa brilhar.

    (3) Qual foi/esta sendo o maior desafio de reproduzir o COLORS no Brasil?

    Acho que a principal preocupação era garantir que as condições do set de filmagem replicassem exatamente a forma com que fazem no estúdio original. São bem meticulosos e exatos em relação ao tipo de material e equipamento envolvido, posicionamento disso, ao tratamento acústico do espaço. E como nossa janela de montagem e filmagem não era longa, não havia margem para erro. Mas tudo acabou correndo super bem.

    Houve uma atenção especial para diversidade no set também, até por ser um valor tão importante na seleção musical do canal

    (4) Sabemos que vocês passaram por toda uma reformulação nesse período enclausurados para conseguir trabalhar majoritariamente online. Essa experiência facilitou o processo em promover a interlocução com uma equipe internacional?

    Com certeza! Honestamente, as reuniões com eles eram ótimas, porque há uma capacidade de ser objetivo e realmente usar a reunião para resolver o estritamente necessário, o que é revigorante! Por outro lado, como acabamos atuando bastante como tradutores nos diálogos com os artistas, acho que trouxemos uma conexão afetiva brasileira que é super bem-vinda para o trabalho também.

     Essa quantidade de artistas brasileiros sendo divulgados em uma onda no canal pode impactar o volume de música brasileira no exterior, tornando mais atual inclusive a noção do que é música produzida aqui

    (1) Qual a importância para a trajetória da Let’s GIG trazer uma série dessa para o Brasil?  

    É uma parceria que nos traz muita felicidade! Temos construído uma trajetória sólida na internacionalização de carreiras e uma de nossas missões é justamente a profissionalização do mercado da música, especialmente no Brasil. Então poder entregar esse trabalho com toda a excelência necessária e contribuir para trazer esse tipo de visibilidade para a música brasileira, em sua diversidade de gêneros e tamanhos de artista, é muito especial. 

    (2) Qual a importância de ter uma produção desse programa conhecido ao redor de todo globo no Brasil?

    Dar espaço e destaque à pluralidade do que é produzido artisticamente aqui. Há um foco grande do canal para artistas negros, por exemplo, e é fundamental poder fazer isso no país com a segunda maior população negra do mundo. Inclusive, além dos shows lançados no formato já conhecido, o Colors fez uma série de vídeos e entrevistas no Brasil coordenados pelo Rodrigo Guima e estão lançando numa nova frente editorial de produção de conteúdo do canal.

    Outro fator especial foi conseguir realizar a ação em um momento tão difícil para as turnês internacionais, o que inviabiliza muito a presença dos artistas no canal. Isso garantiu que mesmo nessas condições, o Brasil seguisse bem representado nessa grande vitrine da nova música mundial.

    (3) O COLORS também tem uma tendência na parte de DESCOBERTA, ou seja,  de apresentar artistas que não estão aparecendo na grande mídia. Para vocês, como essa série pode impactar o mercado independente brasileiro?

    A seleção curatorial do programa teve bastante foco nessa frente de descoberta, então com certeza tem artistas que estão sendo reposicionados no próprio mercado brasileiro, sendo apresentados para novos ouvintes e criando novas demandas para contratantes. Mas essa quantidade de artistas brasileiros sendo divulgados em uma onda no canal pode impactar o volume de música brasileira no exterior, tornando mais atual inclusive a noção do que é música produzida aqui. Esse tipo de ação ajuda a ampliar o conceito que o público estrangeiro tem da música do Brasil, ficando mais aberto e interessado em compreender a fundo nossa diversidade.

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